A propósito do termo sustentabilidade e do romance de Milan Kundera "A Insustentável Leveza do Ser", seguindo-se uma telegráfica apresentação do mesmo.
O facto do título do livro de Kundera ser bem conhecido de um público alargado levou a que essa familiaridade fosse aproveitada como ponto de partida para novas reflexões. Claro que o que estava em causa na obra do escritor checo-francês não era a sustentabilidade enquanto conceito, mas sim como adjetivação de uma dada forma de encarar a vida. Na verdade, as referidas reformulações do nome do livro, sobretudo quando relacionadas com o tema da sustentabilidade naquela que é hoje a sua conotação mais comum (ambiental), são praticamente um exclusivo das línguas românicas, como o português e o francês. Isto porque o título original em checo - tal como as suas traduções nas principais línguas germânicas - aproxima-se mais de A Insuportável Leveza do Ser.
E de que trata afinal A Insustentável Leveza do Ser?
A obra acompanha quatro personagens principais — Tomáš, Tereza, Sabina e Franz (e uma cadela chamada Karenin) — que exploram os seus dilemas amorosos, políticos e existenciais no contexto da Primavera de Praga e da subsequente repressão russa. Kundera confronta a ideia de "leveza" e "peso" perante a efemeridade da vida humana, questionando se uma vida "leve" (despreocupada) tem mais valor do que uma vida "pesada" (marcada por compromissos e responsabilidades). A obra coloca-nos perante um paradoxo existencial: a leveza pode ser libertadora, mas também vazia; enquanto o peso das obrigações pode trazer significado, mas vem acompanhado de sacrifício...
Na imagem: Templo de Erecteion, Atenas