A definição de inteligência artificial (IA) permanece objeto de debate, refletindo a complexidade e amplitude do termo. Neste artigo explicamos em que consiste e exploramos as suas principais vertentes.
O que é Inteligência Artificial?
A inteligência artificial pode ser definida como o ramo da ciência da computação que desenvolve sistemas e máquinas capazes de realizar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana. Estas tarefas incluem a resolução de problemas, a aprendizagem com experiências passadas, o entendimento da linguagem natural ou o reconhecimento de padrões em imagens.
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Shannon, McCarthy, Fredkin e Weinzenbaum: quatro gigantes das ciências da computação |
Historicamente, o conceito de IA começou a ganhar força em 1956, durante a Conferência de Dartmouth (Estados Unidos da América), considerada hoje o marco inaugural desta área de estudo. Cientistas como John McCarthy (o segundo a contar da esquerda na foto), que cunhou o termo "inteligência artificial", ou Marvin Minsky, pioneiro no estudo de sistemas inteligentes, foram fundamentais para estabelecer as suas bases.
Embora a sua definição pareça clara, a IA abrange uma diversidade de abordagens e tecnologias, desde os algoritmos de aprendizagem automática (machine learning), popularizados na década de 1990, aos sistemas de reconhecimento de fala, passando pelos veículos autónomos, que começaram a ganhar relevância a partir da década de 2010. Vejamos agora quais são os principais pontos de vista.
As quatro principais linhas de pensamento
O debate sobre o que define a inteligência artificial envolve diferentes abordagens técnicas e filosóficas.
Uma das perspetivas mais adotadas é a da simulação cognitiva, ou seja, a ideia de que o que define inteligência artificial é a replicação de processos mentais humanos - como o raciocínio e a memória - em sistemas computacionais. Essa abordagem tem inspirado grande parte das pesquisas feitas desde o trabalho inovador que o matemático e cientista computacional britânico Alan Turing desenvolveu a partir de 1950.
Uma segunda linha de pensamento põe o foco no comportamento observável das máquinas. Nesta perspetiva, não importa tanto a forma como um sistema alcança os seus resultados mas sim que ele se comporte de forma semelhante a um humano. Essa visão, conhecida como IA baseada no comportamento, é a mais usada na avaliação de sistemas práticos.
Existe também a perspetiva de que a inteligência artificial é, acima de tudo, uma ferramenta de otimização, projetada para solucionar problemas específicos de maneira eficiente e inovadora. Essa abordagem ganhou força com os trabalhos de Herbert Simon que, em 1975, recebeu o Prémio Turing pelas suas contribuições para o estudo de processos de decisão e aprendizagem em máquinas.
Por último, uma linha de pensamento mais reflexiva e especulativa concentra-se nas dimensões filosófica e ética do fenómeno da IA, olhando para a essência da inteligência, os limites da automação e o impacto da IA na sociedade. A discussão em torno destas questões foi impulsionada por pensadores como Joseph Weizenbaum (o último no lado direito na foto), que publicou em 1976 a obra Computer Power and Human Reason, um marco na crítica ética da inteligência artificial.
Quais são as principais aceções do termo Inteligência Artificial?
A inteligência artificial pode ser entendida de várias maneiras, dependendo de como as suas capacidades são aplicadas e do nível de autonomia em causa.
Quando falamos de IA fraca (ou estreita), referimo-nos a sistemas projetados para desempenhar tarefas específicas, como assistentes virtuais (exemplos: análise de dados, auxílio em diagnósticos médicos) ou sistemas de recomendação. Estes sistemas não possuem entendimento próprio: a sua inteligência é limitada ao domínio para o qual foram programados.
A noção de IA forte (ou geral), por outro lado, procura desenvolver máquinas capazes de raciocinar de forma semelhante aos seres humanos, resolvendo uma ampla gama de problemas de maneira autónoma. Embora ainda seja um conceito teórico, representa um objetivo fundamental para muitos pesquisadores da área*.
Há também discussões sobre a possibilidade de uma super inteligência artificial (SIA) com capacidade para superar a inteligência humana em todos os aspetos. Embora se trate de uma ideia fascinante, representa um cenário fértil em questões éticas e filosóficas sobre o controlo, os limites e os impactos de uma tal tecnologia.
Finalmente, existe o conceito de inteligência artificial artificialmente consciente, que propõe, de forma ainda mais especulativa que a anterior, a possibilidade de criação de sistemas de IA que possuam algum nível de consciência ou autoconsciência. A dificuldade que esta noção apresenta prende-se com o nível de conhecimento ainda insuficiente que existe sobre a própria consciência humana.
Inteligência Artificial - entre a teoria e a prática
A inteligência artificial não é apenas uma tecnologia mas antes um campo interdisciplinar em que se cruzam ciências exatas, ciências sociais e ciências humanas. Desde definições pragmáticas a debates filosóficos, a IA reflete a nossa busca pela compreensão e expansão dos limites da inteligência.
Com aplicações práticas que transformam setores como o da saúde, da educação ou dos transportes, e questões éticas que desafiam as nossas noções de certo e errado, a inteligência artificial é, inescapavelmente, um dos temas centrais da atualidade.
Este artigo é apenas um ponto de partida para entender um conceito com muitas ramificações e que continua a evoluir em ritmo acelerado. A única certeza que temos é a de que a inteligência artificial já não pode ser apenas considerada uma tecnologia do futuro; tem de ser encarada como um paradigma do presente.
* Em entrevista recente à CNBC, Demis Hassabis, o CEO do Google DeepMind, disse acreditar que a Inteligência Artificial Forte poderá ser alcançada nos próximos cinco a dez anos (17/03/2025)