A sustentabilidade tem sido um fator essencial na ascensão do comércio de produtos em segunda mão. Mas que outros motivos contribuem para esta tendência? Neste artigo procuramos lançar alguma luz sobre o tema.

A preocupação com a sustentabilidade ambiental é um dos principais fatores para um fenómeno que tem vindo a evidenciar-se nos últimos anos: o forte crescimento do mercado de artigos em segunda mão. Está cada vez mais presente na mente do consumidor a consciência de que a compra no retalho tradicional implica uma cumplicidade com os danos que as indústrias de maior impacto ambiental - como a indústria têxtil - infligem ao equilíbrio dos ecossistemas, mesmo que as marcas que atuam nesses setores procurem posicionar-se como sustentáveis.
A compra de artigos em segunda mão sempre foi uma realidade nas sociedades humanas, ocorrendo sobretudo por razões eminentemente económicas, motivação que está longe de ter desaparecido. Contudo, a urgência na transição para uma economia sustentável veio dar uma nova dimensão a essa realidade e o facto de serem as gerações mais jovens (Millenials, Gen-Z) as principais responsáveis pelo crescimento desta tendência, revela que a mesma surge associada à preocupação com a crise climática.
Não podendo ignorar os números, o tecido económico, como seria de esperar, começou a incorporar a tendência. Prova-o o número de empresas que têm surgido para explorar a popularidade do mercado de artigos em segunda mão, seja de forma direta, com plataformas que ligam utilizadores compradores a utilizadores vendedores; seja alojando essa opção ao lado das ofertas retalhistas normais; seja ainda oferecendo a possibilidade de compra de equipamentos recondicionados, esta última mais frequente no comércio de produtos eletrónicos.
Como resultado, a capacidade de agradar a sensibilidades que se desviem do gosto dominante perde-se, e com ela uma das principais motivações do público jovem, que é a autoexpressão. Aliada à cada vez mais duvidosa qualidade de fabricação das grandes marcas de roupa - que para além da questão ambiental levanta dúvidas na vertente dos direitos humanos da força de trabalho que emprega -, a desinspiração das coleções, com os seus cortes despersonalizados, afasta cada vez mais os potenciais clientes, levando-os a procurar alternativas.
Concentrando uma variedade de estilos e designs de múltiplas épocas, e apresentando muitas vezes maior durabilidade e qualidade de fabrico, os artigos disponíveis no mercado de segunda mão tornam-se a opção natural para aqueles que não encontram resposta na oferta que domina as grandes superfícies comerciais.
E como cereja no topo do bolo há ainda o fator aliciante da busca, a ideia de estar numa espécie de caça ao tesouro por uma peça de características especiais, ou ainda a possibilidade de sermos surpreendidos por algo que nos faz sentir um "amor à primeira vista".

As lojas ou plataformas de artigos em segunda mão oferecem por isso o melhor de três mundos:
Sustentabilidade - pegada ambiental reduzida
Economia - preços em regra menores do que nos retalhistas tradiconais
Originalidade - possibilidade de encontrar peças únicas
No contexto de transição climática em que o mundo se encontra, a ascensão do mercado de segunda mão parece ser um trunfo para uma economia mais sustentável. Da roupa aos equipamentos eletrónicos, do mobiliário aos discos de vinil, a oferta de produtos usados ou recondicionados, potenciada por empresas que apostam nesse setor, é cada vez mais completa, segura e satisfatória, proporcionando soluções para todos os gostos e orçamentos.
Tratar-se-á de uma tendência conjuntural ou de uma prática que veio para ficar?